segunda-feira, 31 de outubro de 2016

A santidade nos nossos tempos - Homenagem póstuma ao meu querido irmão.






Meu irmão faleceu na semana passada após uma luta dolorosa contra um câncer.

Durante os últimos meses, silenciaram as respostas humanas diante de uma doença que foi dizimando o corpo do meu irmão aos poucos.

Diante deste silêncio humano, felizmente urge no coração dos crentes, a fé como resposta poderosa.

Deus abre as suas mãos e acaricia os seus filhos com imensa ternura.

Dizia São Vicente de Paulo que um cristão não deveria fazer coisas extraordinárias, mas sim fazer extraordinariamente bem as coisas normais do dia a dia…

Meu irmão não fez nada de extraordinário, mas efetivamente fez de forma extraordinária a sua missão de pai e de esposo.

As memórias que agora são contadas pela sua esposa, pelo seu filho, pelos seus irmãos e pais, revelam um espírito santificado pelas boas obras do dia a dia.

“Os cristãos, de qualquer estado ou ordem, são chamados à plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade”. Assim diz o Catecismo da Igreja Católica, no nº 2012 referindo o II Concílio do Vaticano, na sua encíclica Lumen Gentium, 40.

Não se pode mesmo ignorar o quanto a santidade destes pequenos servos que todos os dias cumprem com grande humildade e amor as suas tarefas do dia a dia, conseguem fazer muito mais que todos os poderosos com as suas pompas do mundo moderno.

Na verdade, são os pequenos gestos que contam para os que estão perto. Não importam os bens materiais diante de uma pobreza espiritual.

Enquanto vivemos nesta vida somos como que administradores dos bens que nos são concedidos. 

Somos apenas meros administradores, porque os bens que possuímos hoje nunca serão nossos eternamente.

Jesus efetivamente fez esta analogia que é relatada no Evangelho de São Lucas, capítulo 12, versículos 42 e seguintes: “Qual é o administrador sábio e fiel que o senhor estabelecerá sobre os seus operários para lhes dar a seu tempo a sua medida de trigo?” – assim perguntou Jesus aos seus discípulos.

E depois, Ele acrescentou: “Feliz daquele servo que o senhor achar procedendo assim, quando vier! Em verdade vos digo: confiar-lhe-á todos os seus bens.”

Durante esta vida, Deus nos confia bens materiais e espirituais. Mas todos estes bens são como sementes que precisam das nossas mãos para darem frutos.

E quais são estes bens?

Os bens são como a chuva de graças derramada todos os dias na nossa vida.

Permito-me lembrar a vida do meu irmão na terra…

O que ele administrou?

Meu irmão foi filho, foi esposo e foi pai.

Nestas missões que ele assumiu, a sua administração deixou lembranças lindas nos seus pais, irmãos, esposa e filho.

Que mais poderia fazer ele, senão cumprir bem o que assumiu?

Para além disso, sofreu uma doença que o arrancou desta vida de uma forma muito dolorosa.

No entanto, a paz com que deixou esta terra, revela bem a sua grandiosa vida mesmo na simplicidade das pequenas coisas do dia a dia.

Em Mateus, capítulo 10, versículo  38, Jesus estabelece uma fronteira para a nossa vida: “Quem não toma a sua cruz e não me segue, não é digno de mim.”

A cruz de cada dia é imensamente pesada e o que Deus nos pede é que a carreguemos com amor. Assim, realmente demonstrarmos que somos bons administradores das dádivas recebidas nesta vida.

Então, se somos meros administradores, ajamos como tais e cuidemos bem do que Deus nos confiou!

Como homenagem póstuma ao meu irmão deixo as seguintes frases de Santa Teresinha que viveu apenas 24 anos nesta terra:

“Uma alma abrasada em amor não pode permanecer inactiva.”

“O mérito não consiste em dar muito, mas em amar muito.”

“Nós, que corremos pelo caminho do Amor, não devemos pensar no que nos pode acontecer de doloroso no futuro.”

“Não é «a morte» que virá buscar-me, é Deus.”

“Quero passar o meu Céu a fazer bem á terra.”


(As frases de Santa Teresinha foram retiradas do site: http://www.carmelitas.pt/teresinha/petalas.html)